Afastamento por Covid exige jogo de cintura de empresas brasileiras

Afastamento por Covid exige jogo de cintura de empresas brasileiras

Segundo levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), uma em cada três empresas brasileiras enxerga como principal desafio ter de lidar com a ausência de funcionários por causa da doença

Além do faturamento mais baixo, resultado de uma crise econômica sem precedentes, a pandemia impôs outro grande desafio para as empresas: o afastamento dos trabalhadores por causa da Covid-19. Segundo levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), uma em cada três empresas brasileiras enxerga como principal desafio ter de lidar com a ausência de funcionários por causa da doença.

A pesquisa qualitativa, realizada junto a mais de 4 mil empresas de todo o país, 34% dos empresários citaram o afastamento como um dos principais problemas enfrentados. No levantamento anterior, realizado em outubro do ano passado, eram 22%.

Nos setores em que não houve restrições de funcionamento, como indústria e construção civil, essa reclamação aumentou consideravelmente. No setor industrial, 42% dos empresários apontaram o problema – ante 24% no levantamento anterior – , enquanto na construção o índice passou de 25% para 39%.

Já no comércio, que ficou fechado nos momentos de pico de casos e mortes, o número se manteve: 25%. Nos serviços, as empresas que citam afastamentos passaram de 18% para 32%.

Rodolpho Tobler, economista do FGV Ibre, explica que embora o percentual de apontamento do problema seja maior nos setores industrial e de construção, é nos setores que concentram o maior número de pequenas e médias empresas que o problema é mais difícil de ser contornado.

“Os setores mais impactados pela pandemia, como serviços e comércio, já estão com uma grande limitação no quadro de funcionários, com menos pessoas trabalhando. Quando um adoece, fica mais difícil lidar com isso. Já na indústria, as empresas conseguem substituir mais facilmente o funcionário afastado”, explica o economista.

Presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, afirma que o segmento industrial no Estado encaram os afastamentos como um fator natural em um contexto de pandemia e se prepararam para lidar com essa questão.

“Quando há qualquer indício de contágio, o funcionário é afastado. Temos tido um grande número de afastamentos preventivos e investindo em testagem. Por isso que o contágio é menor no setor industrial do que em outros da economia”, diz Roscoe.

Para quem tem um bar ou um restaurante, ficar sem a cozinheira ou sem um garçom pode ser bem complicado. Sócia-proprietária da rede Assacabrasa, Gabriela Furtado explica que há uma preocupação toda vez em que um funcionário conta que está com algum familiar positivado para a Covid ou quando foi infectado pela doença.

“Além do desfalque na equipe, ainda tem o custo para a empresa, porque o INSS só paga quando o afastamento é maior do que 15 dias”, explica a empresária, acrescentando que neste momento é possível fazer o remanejamento porque as seis unidades estão atuando abaixo de sua capacidade – por conta da restrição de horário, até 19h, imposta pela PBH.

Segundo ela, a rede investiu bastante nos protocolos de segurança e treinamento de funcionários, para que os ambientes sejam seguros para colaboradores e clientes. “Mas eles acabam se contaminando no transporte público ou no contato familiar”.

Sócio-proprietário da rede de lojas Mardelli, Marcus Vinicius Gonçalves conta que houve um aumento no número de afastamentos de funcionários desde a reabertura do comércio em BH, há cerca de um mês. “Até hoje tivemos uma única funcionária com teste positivo para Covid. Mas afastamentos por suspeita da doença, já tivemos muitos. Quando acontece, temos que remanejar pessoas de outras lojas”, relata o empresário.

INSTITUCIONALIZAÇÃO DOS PROCESSOS

Até mesmo empresas que têm parte dos funcionários em home office passam pelo desafio de lidar com os afastamentos. Diretor-executivo da Faculdade Arnaldo, João Guilherme Porto conta que cerca de 20% dos 300 colaboradores já tiveram Covid, mas a empresa se planejou para lidar com essa questão.

“Vimos que, quanto mais forem institucionalizados os procedimentos de uma empresa, menos sofrimento haverá num caso de afastamento. É importante entender que os processos são da empresa e não da pessoa. Aquela situação em que uma coisa só é feita por uma pessoa é um perigo para uma instituição”, argumenta o diretor.

Para Porto, também é fundamental que uma empresa tenha protocolos de segurança e os cumpra de maneira rígida, para garantir que não haja transmissão no ambiente de trabalho.

O economista Eduardo Luiz Alves explica que é preciso haver um robusto plano de ajuda para as micro, pequenas e médias empresas para que não sejam tão impactadas pela falta de profissionais. “Muitas dessas empresas não tem capital de giro e estão sofrendo para pagar as contas. Se um dia de produção é parado por falta de funcionário, quem vai pagar por esse dia? O problema é que os empresários estão buscando empréstimos para lidar com essas situações, mas não estão tendo acesso a crédito”.

AFASTAMENTO PELO INSS

De acordo com a Secretaria Especial do Trabalho, no primeiro trimestre de 2021, 13.259 segurados se afastaram de suas atividades em decorrência da Covid no país. Entre abril e dezembro de 2020, foram mais de 37 mil. Esses dados se referem a trabalhadores que precisaram de um afastamento superior a 15 dias.