Não deixe que sua vida pessoal estrague sua carreira (e vice-versa)

Não deixe que sua vida pessoal estrague sua carreira (e vice-versa)

Estabelecer prioridades cotidianas é fundamental para alcançar o equilíbrio na vida

Uma pesquisa da consultoria Robert Half mostrou que o constante esforço de tentar equilibrar trabalho e vida pessoal é a maior causa de estresse entre os profissionais do setor financeiro nos Estados Unidos. O desafio de viver nesta corda bamba é um impasse comum dentro das empresas e, independentemente da área, pode comprometer a carreira e as relações sociais de muita gente.

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Quem nunca se pegou perdido no trabalho com preocupações vindas de casa que atire a primeira pedra. O contrário também acontece. Um estudo divulgado em 2014 pela empresa de recursos Humanos Randstad mostra que 42% de trabalhadores se sentem obrigados a verificar seus e-mails em dias de folga e 47% deles não demonstram nenhuma culpa em trabalhar doentes.

Tamanho descompasso pode causar sérias consequências para a saúde. Também é comum que, em meio a tanto malabarismo, o indivíduo se desestruture completamente. E como evitar isso?

Para o consultor de carreira da Esic Business & Marketing School Alexandre Weiller, a solução é dividir os âmbitos pessoal e profissional em compartimentos bem definidos para não deixar que um atrapalhe o outro. Como todo ser humano é integral, as duas áreas devem se complementar, sem se misturar demais.

Questão de prioridades

Entender-se como ser completo e ao mesmo tempo compartimentado não é uma tarefa fácil. Na visão do escritor Stewart D. Friedman, autor de Leading the Life You Want: Skills for Integrating Work and Life (Liderando a vida que você quer: competências para integrar trabalho e vida), por mais que se ouça que a separação entre carreira e intimidade seja importante, dificilmente o indivíduo consegue superar este desafio quando não direciona o andamento de sua rotina com base em seus próprios valores.

Ter uma vida plena, para Stewart, tem a ver com a forma como a pessoa orienta seu tempo e atenção para quatro âmbitos centrais da vida: trabalho, casa, sociedade e alma. Essa dinâmica sempre dependerá do que é mais importante para o indivíduo. Mas como escolher as prioridades?

Um estudo da Escola de Negócios de Harvard mostra que é importante se perguntar o que é sucesso para você. Pode ser passar no mínimo quatro noites em casa ou estar a par de tudo o que acontece na vida dos seus familiares. É a partir destas definições que se coloca na balança as atribuições do dia a dia de modo a alcançar uma vida mais plena. Sem culpa, sem perdas.

O relógio é elástico

Laura Vanderkam reforça a importância do foco nesse processo ao apontar que um grande erro entre a maioria das pessoas é querer ser impecável na vida e no trabalho. Mas ninguém é capaz de tanto, acreditem. E em uma conferência TED, a estadunidense, autora de vários livros sobre gestão da rotina, defende que usar bem o tempo tem muito mais relações com prioridades do que com competência e agilidade.

Por exemplo, se um vazamento na sua casa demanda sua atenção por sete horas, você acaba encontrando tempo na sua agenda de qualquer forma, porque a sua prioridade é resolver a emergência. Mas se alguém no meio da semana te pergunta se você tem sete horas livres, você não vai encontrá-las de pronto na agenda. Para a escritora, o tempo é altamente elástico quando a pessoa sabe o que quer. Ter ciência disso importa muito quando se precisa equilibrar a rotina.

Mas uma dica: especialistas lembram que, embora seja importante estabelecer um foco em sua vida, optar pela entrega total ao trabalho pode não ser bom nem mesmo para a carreira. Ran Zilca, desenvolvedor do aplicativo Happify, que busca mapear o que faz as pessoas felizes, defende que a satisfação no trabalho está extremamente ligada ao que se vivencia do lado de fora da empresa. Portanto, não deixe de se divertir.

Contornando situações extremas

Volte-se agora para um problema comum. Imagine que esteja com tantas atribulações em casa que não consiga se concentrar no trabalho. Como saber se é hora de pedir ajuda ao chefe ou colega?

De acordo com Humberto Wahrhaftig, gerente da empresa de recrutamento Michael Page, é bom parar um pouco e se perguntar até que ponto a nuvem de situações que você enfrenta lá fora tem afetado sua performance profissional e se você é capaz fazer algo para melhorar. Se já tentou tudo, não pense duas vezes para iniciar uma conversa franca com seu líder ou parceiro no setor. Assim, você estabelece como prioridade a resolução do que tanto te afeta.

E será que vão acreditar em você, te dar apoio? Para Humberto e Alexandre, isso vai depender da relação de confiança construída com a pessoa com quem se abre. Então, é importante falar sempre a verdade e mostrar compromisso durante toda a sua carreira. Qualquer pessoa entenderá que é só uma fase difícil.

Lembrando que não é legal sair contando tudo para todo mundo, mas procurar naquele momento quem realmente é capaz de lhe ajudar. Quando fizer este contato, sobretudo, se quem vai ouvir é o líder, já chegue com o problema e possíveis saídas para contorná-lo na empresa. “Exponha todas as soluções que você enxerga a curto e a longo prazo e a conversa vai fluir melhor”, orienta Alexandre.